Se desligarmos a televisão por um instante, chegaremos facilmente à conclusão que não há problemas que disponham de uma única solução. Da mesma maneira, não há fatalidades que não possam ser questionadas. É ao fazê-lo que se pensa e se encontram soluções.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O Amargo Pingo do 1º de Maio


"Mas tenhamos uma coisa em mente: nas alegorias políticas em forma de filme de zombies de George Romero, os mortos-vivos acabam quase sempre por ganhar consciência e tomar conta de tudo. Os neoliberais contentinhos com o êxito passageiro de Soares dos Santos poderão ser os humanos do futuro, carne para os zombies de agora. Nada dura para sempre." in Arrastão
Muito se disse e se escreveu sobre o que se passou no 1º de Maio em vários Pingo Doce deste país.
Penso que não se disse o suficiente.
O Pingo Doce foi acusado de manipular e pressionar os seus colaboradores para não gozarem o feriado e de um momento para o outro inventa uma promoção fantástica em tempos de crise.
A atitude é de louvar embora incoerente com os próprios anúncios da marca. Como se não bastasse será possivelmente ilegal devido aos indícios de praticas de dumping e de concorrência desleal.
Tudo isto teria passado despercebido se não fosse feito no 1º de Maio - Dia do Trabalhador.
Toda a polémica passaria ao lado se não fosse feito no mesmo dia em que a luta dos trabalhadores converge na luta dentro de supermercados pelo azeite ou pão.
Em 1886 fez-se uma greve em prol dos direitos dos trabalhadores e dos seus horários de trabalho, em 2012 começa a luta no Pingo Doce por bens de 1ª necessidade.
A falta de bom senso, ética e respeito por parte do Pingo Doce é, para mim, o cerne da questão.
Não condeno a promoção em si mas sim a provocação aos valores do trabalho, ao significado das conquistas sociais por parte dos trabalhadores que sofrem em tempos de crise e de austeridade, sendo quase obrigados a aproveitar estas oportunidades. Não os condeno. Apenas condeno o Pingo Doce.
Tinham 365 dias para o fazer, escolheram o dia errado.

Para aqueles que se horrorizam com o consumismo desenfreado percebam que a maior parte daquelas pessoas não estavam a comprar o último telemóvel da moda nem o lcd com mais 10 cm, estavam sim a poupar em bens de 1º necessidade para que uma vez por outra os seus baixos salários possam esticar mais um bocadinho assim ...

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