A alteração do panorama político na Grécia, através dos votos dos seus eleitores, tornou a situação extremamente delicada quando nenhum partido, dos 3 mais votados, conseguiram unir forças para criar um governo sólido, de maioria para os Gregos. A iminência de novas eleições está à porta, e a coligação de esquerda Syriza vai na frente nas mais recentes sondagens.
A Grécia encontra-se numa situação sem precedentes. As imposições da Troika estão a destruir o país e o povo grego ao falar democraticamente não deixou solução à vista. Isto em parte porque neste país europeu, democrático e livre existe um bónus de 50 deputados para o vencedor das eleições (como pretensa forma de garantir a estabilidade) que adultera o ideal de eleições livres, democráticas e fundamentalmente justas e verdadeiras.
Pelos meios de comunicação social e não só, o relato deste impasse grego foi-se dando por todo o mundo com um denominador comum : A Syriza, partido até aqui muito ignorado pelos próprios gregos, ao apresentar as suas propostas, as suas ideias claras contra a política de austeridade, foi amplamente atacada em todo o mundo. Desde o Financial Times à RTP, não se ouve falar das propostas concretas que levaram os gregos a votar nesta coligação, mas sim que os extremistas radicais de Esquerda estão prestes a tomar o poder como se viesse uma espécie de marcianos atacar o nosso querido planeta Terra. Esses malditos!
Ninguém quis perceber o porquê, apenas coçar o preconceito ideológico contra o qual teremos sempre que lutar.
Na sequência destes acontecimentos, Paulo Rangel mostra-se bastante preocupado com o resultado das eleições na Grécia. Chegou ao ponto de dizer que tem bastante medo, imagine-se, de eleições democráticas. Para este euro-deputado pró-europeu e social-democrata nos momentos decisivos não se mostra tão democrata assim. A democracia é feita de vitórias e derrotas, é composta pelo confronto de ideias, e no fim, o Povo é soberano. Foi e será soberano na Grécia ao escolher uma alternativa à austeridade por muitos proclamada de inevitável. Inevitável sim é o resultado desta política que só trará mais desigualdade, mais desemprego, mais dificuldades e, por irónico que pareça, mais dívida.
Por outro lado, Paulo Rangel entra em contradição completa quando afirma que Hollande será algo bom para a Europa. Poderá dinamizar e aliviar pressões junto de Angela Merkel o que poderá também ajudar a resolver a tragédia grega. Isso é um facto. No entanto, Hollande também defende equidade fiscal entre os rendimentos do capital e os rendimentos do trabalho, as taxas para as operações financeiras, o aumento de impostos para os mais ricos, a criação de um banco público para dinamizar a economia ajudando as PME, subida de impostos para a banca, proibição de sucursais bancárias francesas em paraísos fiscais e muitas outras medidas já defendidas pelas mesmas pessoas que Paulo Rangel chama Radicais de Esquerda.
Como Joana Amaral Dias disse: "as pessoas fazem-se pelas suas ideias." Eu acrescento : "Não se fazem por rótulos e preconceitos marcados com quaisquer outras intenções."
Rangel gosta portanto de um radical de esquerda, Hollande. Já os radicais de esquerda do Syriza ou do Bloco de Esquerda metem medo. Tanto medo que o fazem até temer eleições democráticas, esse grande pilar da democracia.
outra opinião sobre o mesmo assunto em activismos de sofá
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